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O golfe e o esqui na neve
Crónica

Para evoluir é preciso “ouvir” as outras modalidades e ver as melhores práticas 

Acabei de regressar da neve, após uma semana maravilhosa de esqui em Itália com um grupo de amigos e numa das subidas para as pistas, em conversa com um amigo meu, lembrei-me de lançar este tema para a discussão com os leitores do GolfTattoo. 

Tive muita pena que o meu pai nunca tivesse tido a oportunidade de ter visitado uma estância de esqui. Em primeiro lugar porque ele era um excelente desportista, e por isso estou certo que  rapidamente iria gostar, depois para ver como funcionava a operação nas suas diversas vertentes, desde a  recepção, ao ensino, organização das pistas, etc. 

Nas muitas conversas que tivemos (não foram as suficientes) para resolver os problemas do golfe mundial, falei-lhe inúmeras vezes que ele deveria visitar uma estância de esqui para ver qual o segredo de uma modalidade que movimenta anualmente cerca 300 milhões de praticantes, que se deslocam para as mais diversas montanhas de todo o mundo, sendo que as mais conhecidas ficam nos Estados Unidos, Canadá, Suíça, França, Itália e Espanha. O golfe é praticado em todo o mundo por 60 milhões de jogadores, ou seja, cinco vezes menos. 

Os praticantes de esqui, tal como os do golfe, vão dos 5 aos 80 anos, sendo usual ver 3 gerações a praticar esta modalidade. 

No esqui, tal como no golfe, existem prós e contras e questões que ficam por responder mesmo aos consultores mais interessados nestes fenómenos. 

Começamos pelo frio, sim, faz frio na neve, por mais agasalhados que estejamos, faz frio, nas mãos, nos pés ou quando ficamos parados nos bares nas pistas a beber um chocolate quente. As botas são um pesadelo, pesadas, aqui a tecnologia ainda não evoluiu muito, e os esquis também não são propriamente leves. Imagine uma pessoa de 70 anos, a sair do hotel, levando calçado um par de botas (5-6 kg), com os esquis às costas (7-8kg) a caminho das pistas a cerca de 300 metros, com gelo, com perigo de quedas, para praticar um desporto perigoso, em que se pode magoar, partir uma perna, um braço, a clavícula ou fazer uma simples distensão. Depois vem o preço, não é barato praticar esqui, em Portugal estima-se que cerca de 100.000 pessoas praticam esta modalidade pelo menos uma vez por ano. As botas podem ser alugadas, ou compradas, os fatos, esses, devem comprados, os esquis podem ser alugados e depois ainda existe o green fee (forfait) na neve… E tudo isto pode custar 400 a 500 euros por semana, isto para não falar da viagem de carro ou avião, transfers, hotéis, refeições… Como alguém diria, é só fazer as contas… 

Depois vem a magia da neve, chegar ao cume das montanhas, as vistas, as paisagens deslumbrantes, as conversas com os amigos sobre o sentido da vida, a adrenalina de fazer uma descida a mais de 60 ou 70 km/h, o famoso aprés ski com tantas histórias que temos para contar após mais um dia de subidas e descidas, tudo fica para plano secundário. 

Destaco ainda, duas ou três questões que podem explicar o sucesso desta modalidade.

Em primeiro lugar a formação, as escolas, a organização. Bem sei que é um desporto perigoso, e não é para curiosos, mas é obrigatório ter aulas, dominar a técnica, e para isso, é necessário ter aulas nos três ou quatro primeiros anos de esqui, e depois ir fazendo algumas aulas pontuais para corrigir alguns erros. Os professores têm, em todas as estâncias que conheço, uma técnica similar, um nível de esqui muito elevado, capacidade de diálogo, paciência, uniformes bonitos, ou seja, existe uma unidade muito coesa nos professores permitindo uma percepção de que é muito importante ter aulas para evoluir.

Depois vem a classificação das pistas, desde as verdes e as azuis, estas as mais fáceis, até às pretas onde só experts podem entrar com algum à vontade. Quem não domina a técnica dificilmente poderá descer uma encosta mais íngreme, com gelo, ou seja, existe um enorme respeito por parte do esquiador sobre a pista que quererá descer. 

Para os amantes do golfe, como nós, estou certo que já todos compreenderão o ponto onde quero chegar: o golfe para evoluir tem de “ouvir” as outras modalidades e ver as melhores práticas utilizadas. Temos de sair fora da caixa e tentar descobrir onde e como podemos melhorar. Vejo sinais interessantes no trabalho que a PGA de Portugal está a começar a desenvolver, e aqui deixo uma palavra de apreço pelo trabalho que o seu presidente José Correia está a efectuar.

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