
Sobre a imagem que chocou o “super-agente” do golfe português Pedro Lima Pinto
Era quinta-feira passada, 10 de Maio. Decorria a primeira volta do Open de Portugal no Morgado Golf Course. Tomás Bessa tinha sido o primeiro português a entrar em campo, pelas 7h50, pelo que foi também o primeiro a concluí-la. Acto contínuo, publiquei no Facebook do torneio a fotografia tirada pelo Filipe Guerra – fotógrafo oficial do torneio – que ilustra o presente artigo.
O Filipe tinha-me dito que era uma foto “gira”, mas era mais que do que isso: era uma foto “diferente”. Na publicação, comentei que o Tomás chegara a liderar o torneio por momentos, graças a um começo demolidor, com dois birdies nos três primeiros buracos, vindo a finalizar com um 73 (+1) que se devera, em parte, ao duplo bogey no buraco 1 (o seu 10.º buraco do dia), precisamente onde se encontrava o jogador na imagem em questão.
Este acidente de percurso em nada afectou o Tomás, que percorreu os oito buracos restantes de forma magnífica, com sete pares e um birdie. O seu resultado inaugural foi aliás positivo: num dia em que apenas 16 jogadores bateram o Par 72 do campo, o ex-amador do CG Miramar – ainda a dar os primeiros passos na sua nova condição de profissional – estaria no grupo dos 37.ºs (entre 156 participantes) após o fim da primeira jornada.
Qual não foi o meu espanto quando, ao entrar no “Players Lounge” para almoçar, vem ao meu encontro, exaltado, o manager do Tomás Bessa, Pedro Lima Pinto, da Greatgolf, que trabalha com outros profissionais como Tiago Cruz, João Carlota, Tiago Rodrigues e Gonçalo Pinto. De telemóvel na mão, a mostrar-me a fotografia, perguntava-me. “Isto faz algum sentido?!” E repetia: “O que é isto!? O que é isto!?”
Eu fiquei completamente banzado. Tratava-se de uma inusitada diabolização de uma fotografia inocente. É que, sinceramente, eu nunca a tinha visto sob qualquer perspectiva negativa. E, por mais que tente, não consigo vê-la assim. Pelo contrário, o que vejo naquela imagem é heroísmo, é a força, a garra e o poderio do jogador extraordinário que o Tomás Bessa é, aquele que deixa de boca aberta todos os que jogam com ele pela primeira vez, um Cristiano Ronaldo do golfe em potência – assim a sua evolução técnica e mental lhe permita chegar a tal patamar.
Foi o que transmiti ao senhor Pedro Lima Pinto, mas este, num último assomo de indignação, perguntou-me como é que o jogador se iria sentir quando visse a fotografia… Ora, o que ele estava aqui sugerir é que o Tomás Bessa seria tão inseguro, que se poderia ir abaixo das canetas só por ver publicada uma imagem do próprio numa situação de jogo que, embora não seja bonitinha (tipo um shot banal do tee ou assim), não deixa de ser normal. Quem é que não vai para o mato? O Ballesteros não era de certeza… e não tinha vergonha disso! E desde quando é proibido publicar fotografias de jogadores em situações adversas?
Eu não acredito que o Tomás seja assim, mas, chegados a este ponto, cedi a Lima Pinto: “Ok, ganhaste! Vou eliminar a fotografia.” E assim fiz. Podem até acusar-me de ter sido frouxo por ter eliminado a fotografia, mas houve três razões que me levaram a fazê-lo: 1) Não estava inserida numa publicação original do GolfTattoo, antes nas redes sociais institucionais do Open de Portugal; 2) Temi que Lima Pinto, com o seu histerismo, contaminasse Tomás Bessa; 3) Não queria dar a Lima Pinto o prazer de ter um bode expiatório caso as coisas corressem mal ao Tomás na volta seguinte.
Mas nada me impedia, nada me impede, de voltar ao tema no GolfTattoo, até porque foi das cenas mais aberrantes que vivi nos meus 27 anos de carreira como jornalista de golfe.
Lembrei-me de contactar a Carla Lopes, antiga campeã nacional amadora absoluta e também ex-profissional de golfe, hoje psicóloga, pedindo-lhe que comentasse tudo isto.
Eis o que ela disse:
“Antes de sermos profissionais (em qualquer área) acho que temos de nos conhecer. Saber estar e saber fazer é importante mas acima de tudo é importante saber ser. O que esse agente fez e como se comportou leva-me a pensar (e a analisar) várias coisas: projectou claramente as suas inseguranças e para mostrar isso utilizou um comportamento inadequado. Quem teria de se importar ou ficar incomodado com essa foto seria o jogador e mesmo assim, se o Tomás quer ser um profissional e fortalecer-se internamente, terá de saber lidar com a imprensa. […] Seria bom ele [o agente] aprender a focar-se no que realmente importa e não estar a atribuir culpas ou desculpas onde não são para ser dirigidas.
“Quem foi e é jogador de golfe sabe que as adversidades farão sempre parte do jogo, haverá altos e baixos, um constante ajustamento emocional em cada shot e, mais do que ter uma boa técnica, o que fará a diferença entre os jogadores serão duas coisas: a sua capacidade de gestão das emoções e o seu nível de diálogo interno. Mas para isso ele tem de se conhecer para saber o que melhorar nestas questões.
“Adoro a foto, para mim revela uma brilhante forma de aprendizagem de vida, não só para um jogador mas também para todos nós. O que o Tomás está a fazer nessa foto, para mim, é... mesmo dentro dos caminhos difíceis em que nos colocamos, é importante nunca abandonarmos as nossas ferramentas (trolley e saco) e regressarmos ao verdadeiro caminho (fairway). E que independentemente das situações em que nos colocamos (menos boas), temos sempre oportunidade de recomeçar e ‘entrar no jogo’. Essa é a delícia do golfe, mas também na vida. Há sempre oportunidade de melhorarmos.
“Acho que qualquer jogador de golfe simpatizará com a fotografia, quando a vi compreendi emocionalmente o que se estava a passar, criei empatia... Porque só quem não joga ou só quem não vive é que não sabe o que é ir para as ‘couves´ e depois ter de caminhar para sair delas...”