Leonor Medeiros conta como foram os primeiros meses pelas Bulls na University of South Florida, em Tampa
Na sua primeira grande entrevista desde que, em Agosto, se mudou para os EUA, Leonor Medeiros faz um balanço extremamente positivo, em todos os capítulos, da experiência que está a viver como freshman na University of South Florida, em Tampa.
Depois de se ter cotado em Portugal como uma das melhores amadoras nacionais de sempre, protagonizando uma histórica rivalidade com Sofia Sá (que também estará a caminho dos States já no Verão vindouro), a atleta oriunda da Quinta do Peru, em Azeitão, de 18 anos, sente que este foi o passo certo na sua ambição de se tornar jogadora profissional, podendo conciliar os estudos com o golfe ao mais alto nível antes de se lançar em tal desafio.
Em termos desportivos, cedo se impôs na equipa das Bulls: foi titular em todos os torneios realizados o ano passado durante a Fall Season, uma época que se pode dizer que foi de aquecimento para os restantes meses e anos no campus da USF. Ah, e teve oportunidade de estar com estrelas do golfe mundial como Nelly Korda, Lexi Thompson e Christina Kim, entre outras.
Não poupa elogios na forma como foi recebida, no bom ambiente e nas excelentes condições que encontrou, toda uma estrutura construída para ajudar. Reconhece que o ritmo de vida de uma estudante-atleta é muito elevado e duro, mas isso não tem constituído problema.
Diz que os seus treinadores de golfe são, mais do que isso, verdadeiros amigos. Aliás, Leonor Medeiros diz que tem feito amizades incríveis, nomeadamente com a também portuguesa Sara Barata, que está na equipa de basquetebol das Bulls e terá sido uma peça fundamental na sua adaptação.
A todos, a campeã nacional amadora absoluta de 2019 está também grata pela forma como a apoiaram quando, um mês antes de vir a Portugal para as férias de Natal, os seus avós paternos morreram num espaço temporal de quatro dias.
GOLFTATTOO -- Concluída a Fall Season, que balanço fazes desta primeira vivência nos EUA?
LEONOR MEDEIROS – Faço um balanço fantástico. Encontrei um ambiente incrível, temos condições excelentes a todos os níveis, um apoio de toda a equipa técnica fenomenal e uma estrutura que existe para nos ajudar. Fui super bem recebida, tenho pessoas espectaculares à minha volta, fiz amizades incríveis e sinto que posso ser eu mesma com estas pessoas. Estou e sou muito feliz cá, não troco esta experiência, estas pessoas e estas condições por nada! Sinto que escolhi a melhor universidade e o melhor local para estar.
Apesar de toda esta experiência que adoro, neste primeiro semestre nos Estados Unidos passei pelo momento mais difícil da minha vida quando, relativamente um mês antes de voltar a Portugal para ir passar o Natal com a minha família, os meus avós paternos faleceram. O meu avô morreu e quatro dias depois morreu a minha avó. Foram dias extremamente difíceis para mim, quem me conhece bem sabe a importância que os meus avós tinham para mim e a relação que tinha com eles e foi difícil não estar junto da minha família num momento como este.
Ao mesmo tempo, quando isto aconteceu, tive um apoio que nem tenho palavras para descrever por parte das pessoas que estão à minha volta aqui. A minha equipa, incluindo treinadores, psicólogos e staff, e a Sara Barata foram incansáveis e deram-me todo o apoio e mais algum que eu precisasse. Sou grata por estas pessoas.
Lamento. A Sara Barata é…
É outra portuguesa e agora minha amiga chegada, que está na equipa de basquetebol da Universidade. A Sara ajudou-me bastante na adaptação, é mesmo incrível ter alguém do nosso país aqui. Criámos uma muito boa amizade, passamos tempo juntas durante a semana, eu vou ver todos os jogos dela que são em “casa” na USF – e ela já veio ao golfe também. É incrível mesmo.
Então a adaptação aos EUA foi rápida?
Considero que me adaptei rapidamente, sim. Obviamente que foi um processo gradual, fui-me sentindo cada vez mais e mais confortável. Dito isto, a minha primeira semana nos Estados Unidos não foi fácil. Assim que cheguei o treinador adjunto da equipa levou-me diretamente para um hotel porque eu tinha que fazer quarentena, pois ainda não tinha a vacinação completa. Nessa semana tudo o que envolve um estudante universitário começou e eu estava fechada num quarto de hotel... Faltei às primeiras aulas, treinos oficiais de equipa, ginásio, etc.
Nas semanas seguintes tinha tudo por fazer e conhecer mas depois acabei por entrar no ritmo e logo a seguir sentia-me completamente integrada e para isso muito contribuiu o ambiente da equipa e a excelente estrutura que trabalha para nos proporcionar as melhores condições possíveis. O ritmo de vida de um student athlete aqui é muito elevado e duro, pois temos muitas horas ocupadas no nosso dia, desde treinos de golfe, treinos físicos, aulas, estudo etc... e habituar-me a tudo isto foi e é uma experiencia muito interessante, eu adoro.
Como é a tua rotina no dia a dia? Como é o campus?
Acordo todos os dias muito cedo, desloco-me dentro do campus para ir tomar o pequeno-almoço e depois vou para o golfe. A USF tem um campo de 18 buracos que é contiguo ao campus e apesar do campus ser muito grande, eu desloco-me muito facilmente e rapidamente. Desloco-me todos os dias na minha trotinete elétrica e demoro cinco minutos até ao golfe e cerca de três até ao lugar das refeições. Depois do treino de golfe temos treino no ginásio e à tarde temos aulas. Depois das aulas treino outra vez e estudo. Aqui nos Estados Unidos a avaliação é verdadeiramente continua, temos trabalhos para entregar todos os dias e temos que nos organizar muito bem para conseguir ser bem-sucedidos em todas as vertentes.
Boa disposição das Bulls com os respectivos treinadores, Dalton Stevens e Erika Brennan (de boné branco)
Como são os critérios de qualificação da equipa para os torneios? Existe muita concorrência entre vocês?
Em relação à equipa que vai jogar os torneios, antes deles, jogamos qualifyings entre nós. Jogamos entre nós para ver quem são as cinco jogadoras que vão jogar o torneio e depois baseado nos resultados e estatísticas os treinadores decidem quem levam para o torneio. O desempenho de cada jogadora nos torneios também é muito importante para a escolha dos treinadores sobre as jogadoras a levar para o torneio seguinte.
E o ambiente é bom? Existe mais cumplicidade entre as estudantes internacionais, como são o teu caso e o das duas colombianas e da rapariga de Myanmar?
Na minha equipa, o ambiente é excelente, como disse anteriormente, sou muito feliz aqui com este grupo de pessoas. Não existe uma separação ou divisão entre americanas e não americanas. No meu caso, tenho uma ótima relação com todas as jogadoras da equipa, mas existe uma maior proximidade e grande amizade com uma americana, Melanie Green, que é do estado de Nova Iorque.
Há alguma jogadora que se destaca claramente? Quem é para ti a melhor jogadora da equipa?
Considero que todas as jogadoras da equipa são muito boas jogadoras, mas como é natural, algumas têm um nível competitivo mais elevado e na minha opinião e baseando-me nos resultados da Fall Season, a melhor jogadora foi a Melanie Green.
A equipa tem dois treinadores, Erika Brennan e Dalton Stevens. Fala-nos um pouco deles…
Adoro os treinadores, assim como todo o nosso staff, desde psicólogo, preparador físico, fisioterapeuta, academic advisor e médicos. Sobre a coach Erika Brennan, é fantástica, muito positiva e motivadora e tem um conhecimento de golfe tremendo.
O Coach Dalton Stevens, com quem falei mais durante o meu recruitment process enquanto estava em Portugal, faz um dream team com a coach Brennan, está sempre disponível para nos ajudar e é mesmo muito competente. Ambos são muito profissionais mas, talvez mais importante, são pessoas fenomenais que eu sou grata por ter neste processo. São nossos treinadores mas acima de tudo nossos amigos e nós sabemos que podemos contar com eles para literalmente tudo.
Existe alguma sinergia com a equipa masculina de golfe dos Bulls?
A equipa masculina é uma equipa de top na D1, e tem excelentes jogadores. Por vezes treinamos juntos, nós partilhamos os mesmos espaços e somos todos amigos mas não há propriamente nenhum programa formal de colaboração entre ambas as equipas.
E continuas a consultar a tua treinadora de sempre, a Cláudia Dantas?
Sim, sempre. Falo regularmente com a Cláudia, sempre que preciso fazemos videochamadas onde ela me ajuda, envio vídeos etc. Ela continua e continuará a ajudar-me imenso. O que para mim é importante é que há uma conexão entre mim, os meus treinadores da equipa de cá e ela, estamos todos na mesma página. Quando estive em Portugal estive com a Cláudia algumas vezes e contei com a sua preciosa ajuda.
Em quatro torneios na Fall Season, entraste em todos, não foi? Presumo que estejas, para já, satisfeita com a titularidade, tanto mais que és caloira…
Sim, qualifiquei-me para todos os torneios, estou contente com isso. Fui crescendo de torneio para torneio e a contribuir para a equipa. Os treinadores gostaram muito do meu contributo para o grupo dentro e fora do campo.
Como te sentiste no primeiro torneio, o USA Intercollegiate, no Alabama, em que a USF foi 2.ª entre 17 equipas? Os resultados dizem que foi sempre a melhorar: 78-74-71.
Senti-me bem, foi toda uma experiência nova sabendo que foi o meu primeiro college tournament e especialmente porque partimos para o torneio quatro ou cinco dias depois de eu sair da quarentena, ainda não conhecia bem as minhas colegas de equipa, mas foi uma viagem fantástica. Sinto que começámos logo nesse torneio a contruir o excelente ambiente de equipa que hoje em dia temos.
Sabendo que viajámos para o torneio tão poucos dias depois de eu sair da quarentena e obviamente com muito pouco tempo de treino e qualifying, considero que foi uma boa participação na minha estreia. No primeiro dia o resultado não foi bom mas fui sempre melhorando e crescendo ao longo da competição e na última volta estive em bom nível fazendo 1 abaixo do par.
As Bulls vice-campeãs no USA Intercollegiate em Mobile, Alabama
Houve ainda o 6.º lugar no Evie Odom Invitational na Virginia, em que fizeste a tua volta mais baixa (69) para o 6º lugar colectivo em 13 equipas…
Antes desse torneio em Virginia Beach, jogámos outro torneio no Colorado e fomos de seguida para esse torneio por isso foi muito bom porque estávamos com um ritmo competitivo elevado. Essa volta foi muito boa, nesse torneio o meu desempenho foi também crescendo e isso agradou-me. Em termos coletivos não foi mau mas também não foi nada de especial, tínhamos um objetivo bem mais alto do que um sexto lugar mas não deixou de ser uma experiencia incrível.
E depois terminaste a Fall Season fechando o Palmetto Intercollegiate na Carolina do Sul com 5 birdies consecutivos para novo 2.º lugar por equipas e o 25.º individual, a tua melhor classificação…
Foi talvez o meu torneio preferido deste semestre, saí desse evento bastante contente pois fiz um bom resultado e porque estivemos a um fio de conseguir a vitória. Lutámos até ao fim e acabámos por ficar em segundo lugar, o que foi acabou por ser uma ótima maneira de terminar a Fall Season. Individualmente, entre mais de 90 jogadoras, a Melanie fez top 3 e toda a equipa terminou na primeira metade da classificação.
Qual é a força das Bulls dentro da NCAA?
A Division 1 tem cerca de 260 equipas e nesta fall season nós fomos a vigésima primeira equipa com o melhor scoring average. Em termos de ranking estamos numa boa posição para conseguir um top 40 no final da época. A nossa universidade faz parte da American Athletic Conference.
Os campos onde jogaste agradaram-te?
Sim, isso é uma das coisas de que gosto muito cá. No geral os campos são incríveis e as suas condições são perfeitas. O campo de que mais gostei de jogar até agora foi o Kiawah Island na Carolina do Sul.
Tens conhecido outros campos, para além daqueles onde se realizaram os torneios?
Sim, aqui em Tampa, perto da universidade, há muitos campos e nós podemos ir jogar a vários e inclusive fazemos qualifyings lá. Alguns deles são o Tampa Palms que é o que jogamos mais, o Avila Golf & Country Club, TPC Tampa Bay, etc.
Contas assistir a algum torneio do LPGA Tour que se jogue na Florida?
Já assisti em Novembro a um torneio do LPGA Tour o Pelican Women’s Championship, no Pelican Golf Club, em Belleair, aqui na Flórida. Nós fomos fazer voluntariado nesse torneio e tivemos a oportunidade de viver uma experiência incrível com as profissionais do LPGA. Estive com a Nelly Korda, Lexi Tompson, Christina Kim, etc...
Com Nelly Korda...
Com Lexi Thompson...
E em termos escolares, como tem decorrido? O teu pai disse-me que entretanto mudaste de Economia para Gestão…
Tem corrido muitíssimo bem, os resultados foram excelentes. Aqui a universidade consome bastante tempo porque temos trabalhos para entregar todos os dias e no início não estava habituada a isso mas tive resultados muito bons mesmo.
Também fazes vida fora do campus, por exemplo, nos fins-de-semana em que não tens torneios? A cidade de Tampa agrada-te? Tens conhecido outros lugares?
Neste primeiro semestre essa não foi uma prioridade pois queria primeiro sentir-me organizada e na verdade, durante a época, não há tempo para sair da nossa rotina mas tive a oportunidade de fazer algumas coisas bastante interessantes.
A cidade de Tampa é fantástica. No início, antes da época começar, fui a um concerto do Ed Sheeran no centro da cidade que adorei. Outras atividades que costumo fazer é ver os jogos de diferentes equipas da USF como futebol americano, soccer (o “nosso” futebol) e basquetebol mas especialmente os jogos de women’s basketball por causa da equipa da Sara.
Não menos importante, costumo passar tempo com a minha equipa, às vezes vamos jantar todas juntas e costumo também passar tempo com a equipa da Sara. Fiz boas amizades com algumas jogadoras da equipa da Sara. Uma das coisas mais giras que fiz foi ir passar o thanksgiving ao estado de Nova Iorque com a Melanie à sua casa com a sua família. A casa dela é muito perto do Canadá, onde está muito frio e foi giro estar na neve. Fomos ao Niagara Falls e ela mostrou-me a cidade onde mora.
Regressaste a Portugal para as férias de Natal. Como passaste esses dias?
Passei três semanas ótimas, sempre a correr para estar com o máximo de família e amigos e treinar. Estive também uns dias em Mértola no Alentejo, a terra do meu pai. No geral, foi importante passar tempo com pessoas de quem tinha saudades.
E quais são as tuas expectativas para o semestre que se avizinha?
São as de qualificar-me para jogar todos os torneios, obtermos uma boa classificação enquanto equipa, chegarmos o mais longe possível, continuar a evoluir, obviamente continuar os bons resultados académicos e continuar a aproveitar esta experiência ao máximo!
Como estão a lidar com o covid aí? Há muitas obrigações, do género usar mascara nas aulas?
Aqui lida-se com o covid de maneira bastante diferente do que eu estava habituada em Portugal. Não há obrigações, há liberdade para as pessoas fazerem as suas escolhas, quem quiser usar máscara usa, quem quiser ser vacinado é. A maioria das pessoas estão a fazer a vida normal. É assim que as coisas estão aqui e a verdade é que não se ouve falar em covid, apenas ocasionalmente. Depois há as regras que cada universidade tem. Por exemplo, na minha todos os student athletes que não estão vacinados têm que ser testados semanalmente.